Em junho de 2019, o Facebook anunciou que está trabalhando na criação de sua própria criptomoeda, com previsão de lançamento em 2020. Libra, como foi batizada, será controlada por uma associação de empresas, entre as quais Spotify, Visa, Uber e Union Square Ventures.
Desde o anúncio, o congresso norte-americano tem discutido o tema, ressaltando que a Libra deverá ser regulada. A criptomoeda pode levar maior poder econômico a muitas pessoas – uma vez que não será suscetível à inflação de moedas nacionais, o dinheiro do usuário em Libra não sofrerá desvalorização –, além de facilitar transações online. Ao mesmo tempo, o Facebook já teve problemas relacionados à privacidade em um passado recente, como o caso da Cambridge Analytica – e, quando se trata de dinheiro, o cuidado precisa ser redobrado.
A Libra reacendeu as discussões sobre as criptomoedas ao redor do mundo e influenciou governos a se posicionarem sobre o tema. O Brasil, por exemplo, lançou no início de agosto sua primeira regulação para criptomoedas, exigindo que as corretoras informem à Receita Federal todas as transações efetuadas. Usuários que realizarem transações acima de R$ 30 mil em um único mês também deverão declarar.
Há poucos anos, o mercado de criptomoedas era desregulado e pouco profissional. Eram escassas empresas como corretoras, que fazem compras e vendas de criptomoedas, e empresas financeiras que realizam arbitragem. O que era um mercado incipiente, hoje está em pleno desenvolvimento, contabilizando mais de 1.600 criptomoedas diferentes ao redor do mundo. No Brasil, mais de 1 milhão de pessoas possui cadastro em corretoras para investir em criptomoedas, superando o número de investidores registrados na Bolsa de Valores.
Moedas descentralizadas
As criptomoedas são baseadas no blockchain, que armazena as informações sobre as transações de forma transparente e incorruptível. São formas de pagamento independentes de instituições financeiras, e por isso seus usuários podem realizar transações peer-to-peer, sem intermediações ou taxas adicionais. Além disso, uma vez que são digitais e, portanto, globais, permitem transações internacionais sem a necessidade de câmbio.
Apesar do número expressivo de diferentes criptomoedas existentes, há poucas que se tornaram famosas nesse ecossistema. Entre elas, a mais relevante é o Bitcoin. Criado em 2009, trata-se de uma rede global de pagamento descentralizada. Não há uma entidade que controla as transações, e a rede é baseada no consenso de seus participantes. No entanto, a criptomoeda se tornou, além de uma moeda de troca, uma modalidade de investimento.
É uma aplicação arriscada e volátil. Uma vez que o valor do Bitcoin é baseado na oferta e demanda e, não raro, em especulação dos maiores controladores da criptomoeda no mercado, o preço da unidade é instável. Ao mesmo tempo, é possível ganhar muito dinheiro caso a criptomoeda esteja em alta.
Outras criptomoedas que se tornaram famosas são Ethereum e LiteCoin, também baseadas em uma rede descentralizada. Já a Libra, do Facebook, propõe a criação de uma reserva de ativos, como títulos de dívida pública, para garantir a estabilidade de seus valores. Outro exemplo de criptomoeda lastreada é a Tether, que possui paridade com o dólar.
Ainda não é o momento para empresas investirem nas criptomoedas. Uma vez que se trata de um mercado pouco regulado, além de extremamente volátil, pode trazer problemas para o negócio. Caso sejam criadas regras para a operação de criptomoedas, esse ambiente se tornará mais confiável. Por outro lado, uma regulação restritiva demais pode travar o mercado de criptomoedas, que veio para solucionar dificuldades de transações monetárias.
Criptoativos
Além das criptomoedas, há também os chamados criptoativos, ou tokens. Eles possuem uma utilidade específica, diferentemente do Bitcoin, que pode ser utilizado para fazer quaisquer transações. Os tokens utilitários, ou app coins, representam o acesso a um produto ou serviço. Um parque de diversão, por exemplo, pode optar por vender seus ingressos através de tokens.
Já os security tokens representam um ativo real. Imagine, por exemplo, que um token possa representar a fração de uma obra de arte. Caso sejam distribuídos, várias pessoas podem ser proprietárias de um quadro e vender seus tokens, que terão seu preço baseado no valor atual da pintura. Se ela for danificada, passará a valer menos, assim como os tokens.
Outro tipo de criptoativo é o equity token, um tipo de security token que representa a participação na sociedade ou uma ação de uma empresa. A vantagem em criar tokens para essas diferentes funções está no blockchain, no qual os criptoativos também estão baseados. Portanto, as transações de securities se tornam mais transparentes, seguras, descentralizadas e menos burocráticas.
As criptomoedas ainda não funcionam popularmente como, de fato, moedas de troca. Ainda são vistas muito como modalidade de investimento e especulação para ganhar dinheiro rápido. Futuramente, além de transações, podemos esperar que os tokens utilitários sejam adotados para pagar por diferentes serviços, do transporte público ao aluguel. É um mercado em ascensão que está apenas começando – fique de olho.
Por Raphael Morozetti, Business Development na GR1D, e Rogério Melfi, Gerente de Produto na GR1D